quarta-feira, 30 de março de 2011

Transformações demográficas em Sergipe

Texto: Neilson S. Meneses (DGE/UFS)
Pode-se identificar a partir dos anos 1970 quatro características principais relativas às transformações demográficas em Sergipe e são elas: a redução no ritmo do crescimento populacional, mudanças nos fluxos migratórios, um contínuo processo de urbanização e o início do processo de envelhecimento relativo de sua população. Estas características estão inter-relacionadas, tanto com a evolução do contexto sócio econômico e cultural, como com as variáveis demográficas que nos apontam a uma transição demográfica e que, além disso, nos permite indicar algumas tendências demográficas futuras.

Em termos absolutos, o crescimento populacional no Estado segue sendo significativo, porém, quando nos referimos a dados relativos observa-se que Sergipe apresenta uma tendência de redução do ritmo de crescimento de sua população. Entre 1940 e 1970 houve um incremento absoluto de 368.925 habitantes, o que significou um crescimento relativo da ordem de 68,02%. Já no período entre 1970 e 2000, apresentou um incremento absoluto de 873.224 com incremento relativo de 95,8%. Entretanto, a projeção para o período 2000-2030 supõe um crescimento absoluto de 834.550 e um crescimento relativo (46,7%.), ou seja, mais reduzido comparados com os períodos anteriores.

Quando utilizamos como parâmetro a taxa de crescimento geométrico da população, observamos que a tendência de redução do ritmo de crescimento populacional em Sergipe começa nos anos 1990, que é quando se inicia uma terceira fase da transição demográfica no Estado, com taxas de fecundidades em queda e de mortalidade já baixas. É então a partir deste período que se observa uma redução no ritmo de crescimento populacional que prossegue para décadas posteriores.

Essa redução no ritmo de crescimento populacional é resultado principalmente da queda nas taxas de fecundidade, que a partir de 1970 apresentam uma rápida diminuição, fato que ocorre em paralelo ao contexto regional e do país.

Neste período, porém, também chama atenção que as taxas de crescimento populacional em Sergipe apresentam-se sempre maiores que a media regional e do país. Isso contribui para que cresça, nos anos analisados, a participação proporcional da população sergipana na região e no país e ainda que os valores não sejam tão significativos, o constante aumento da participação proporcional da população neste período, aponta tanto um ritmo mais lento na redução da fecundidade no Estado, como também sugere mudanças no fluxo migratório dos sergipanos.

As cifras da migração em Sergipe demonstram que a partir dos anos 1970 ocorre uma mudança no volume migratório, assim como também uma variação na direção dos fluxos. Se antes, principalmente entre os anos 1950 e 1970 houve uma forte corrente migratória, sobretudo para a região Sudeste, a partir dos anos 1970 começa uma redução nesse processo e uma migração mais direcionada para as zonas urbanas do próprio Estado. Os dados apontam uma redução da taxa líquida de migração de 1970 até a década de 80, quando inclusive apresenta-se positiva. Nos anos 1990 volta ser negativa, embora com valor pouco significativo e a partir de 2000 até 2030, segundo as projeções tendem a apresentar uma redução menor e uma tendência ao equilíbrio do saldo migratório já que as taxas apresentam valores negativos muito reduzidos.

Essa desaceleração dos fluxos migratórios é em conjunto com a redução mais lenta da
fecundidade, o que vai explicar as maiores taxas de crescimento populacional do Estado comparado com a região e o país. Vários são os motivos que nos ajudam a entender essa redução da migração em Sergipe, ainda que a complexidade do fenômeno o torne de difícil explicação, há alguns fatores que podemos associar a esse processo. Em primeiro lugar os anos 1970 marcam o início de um processo de industrialização no Estado. Nesta década começa também um processo de modernização da economia sergipana estimulados pela política industrial da Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste) e pelos efeitos da chegada da Petrobras ao Estado.

Nesse momento também se inicia um processo de modernização da agricultura sergipana com projetos de irrigação e estímulo a produção de frutas para as recém chegadas agroindústrias de exportação de suco concentrado. Tudo isto resulta em um processo de urbanização crescente e contribui a redirecionar em boa parte os fluxos migratórios para áreas urbanas do próprio Estado, especialmente para a capital Aracaju, município que recebe o maior número de migrantes. Ademais do início do processo de industrialização e urbanização, contribui também para a redução do saldo migratório do Estado, a redução da demanda de migrantes na região Sudeste.
Outro fator a considerar é a redução da fecundidade que promove uma diminuição do crescimento vegetativo e reduz o número de migrantes em potencial. A redução da fecundidade, que por sua vez também está relacionada à migração do período anterior, isto é, os filhos que os migrantes que saíram deixaram de ter em Sergipe também explica a redução da fecundidade no Estado.

A terceira grande transformação que caracteriza a população sergipana a partir dos anos 1970 é a mudança na distribuição espacial da população em virtude de um contínuo processo de urbanização. Entre 1970 e 2007 Sergipe transformou-se de uma população majoritariamente rural para uma população predominantemente urbana.

O processo de urbanização em Sergipe, analisado a partir dos dados da PNAD-IBGE, revela que o mesmo é semelhante ao processo nacional, e um pouco mais veloz que o regional. Os dados de 2007 disponíveis para o Estado, região e o país apontam taxa de urbanização de 83,5 % para o Brasil; 71,7% para o Nordeste e 81,7 % para Sergipe.

Outra característica que marca o processo de urbanização em Sergipe é a concentração territorial da população. Segundo dados do censo 2000 (IBGE) 56,2% da população urbana sergipana vive em apenas cinco cidades (Aracaju, Nossa Senhora do Socorro, São Cristóvão, Itabaiana e Estância) com mais de 50 mil habitantes que representam apenas 5,3% do total de cidades. Três destas cidades (Aracaju, Nossa Senhora do Socorro e São Cristóvão) junto com o município da Barra dos Coqueiros formam a chamada grande Aracaju que concentra em seu entorno atualmente (2007) 39,2 % da população. Ocorre também uma concentração em termos de população total, já que em tão somente seis municípios, com mais de 50 mil habitantes do Estado (Aracaju, Nossa senhora do Socorro, Lagarto, Itabaiana, São Cristóvão e Estância) concentram-se mais da metade da população 50,3%, segundos dados da contagem populacional 2007. Comparado com os dados da década de 70 onde 39,6% da população viviam nos seis municípios mais populosos, verifica-se que o processo de urbanização tem levado a uma concentração territorial da população, tanto em termos população total, quanto em termos de população urbana.

A urbanização e concentração da maioria população em poucas cidades, entre outros fatores, tem contribuído ao processo de redução das taxas de fecundidade e da taxas de mortalidade no Estado em especial da mortalidade infantil. Como é sabido, tudo isto é devido ao maior acesso que a população tem nas cidades, as políticas de atenção à saúde, à educação e ao maior custo de criação dos filhos. Assim, o processo de urbanização em Sergipe vem acompanhado de uma transformação na sua dinâmica demográfica que vai resultar em mudanças na estrutura etária da população e que dão início a um processo de envelhecimento relativo de sua população.

Neste contexto, a quarta característica que marca as transformações demográficas a partir de 1970 em Sergipe é o início do processo relativo de envelhecimento de sua população, comprovado pelas mudanças em termos da composição etária. Observa-se que até a década de 80, as mudanças na estrutura de idades são suaves, porém, a partir dos anos 1990 é quando essas mudanças são mais significativas com a diminuição das novas gerações, pela redução crescente da fecundidade desde os 70, porém, somente apresentando sua redução maior a partir dos anos 1990. Estas transformações conduzem a um processo de envelhecimento relativo da população pela base, próprio dos países em desenvolvimento.

O resultado é uma diminuição na participação proporcional do grupo de jovens na população total o que vai contribuir para uma aceleração do processo de envelhecimento relativo da população, salvo mudanças no fator migratório que alterasse essa tendência, o que também não é apontado pelas projeções.

No Período 1970-2007 verifica-se uma constante transformação na estrutura etária que desemboca em uma crescente participação do grupo de idosos na população total, enquanto se reduz a participação do grupo de jovens.

De modo geral, as transformações na estrutura etária estão associadas aos fatores demográficos da migração, fecundidade e mortalidade que segundo sua evolução conduz a um processo de envelhecimento populacional. No caso de Sergipe é a redução da fecundidade o principal fator explicativo do processo.

A migração, do ponto de vista dos movimentos internos, isto é, entre os municípios, e também com relação ao campo-cidade, especialmente a partir da década de 70 se configura como uma tendência contínua e nesse caso jogam um papel importante na explicação da variação do envelhecimento populacional entre as diversas regiões e municípios do Estado.

O processo de envelhecimento da população sergipana ainda está em uma fase inicial, porém, caso sejam mantidos os determinantes desse processo, e nada indica que mudará, o processo se intensificará nas próximas décadas.

Do exame da realidade demográfica do Estado nesses últimos anos, o que se detecta é que entre os principais desafios que a sociedade sergipana já começa enfrentar e que deverão se intensificar estão os relacionados diretamente a estas transformações demográficas, o que vai requerer políticas de desenvolvimento eficientes.

A maior concentração da população nas cidades faz aumentar a demanda e os gastos com infraestruturas, o significativo aumento de idosos demandará medidas específicas de atenção social e maiores gastos com políticas de saúde. Por outro lado, esse período de transição até o envelhecimento populacional, é caracterizado pelo aumento da população ativa, o que implica na necessidade de geração de emprego e renda para um contingente grande de população, o desafio é do crescimento econômico sustentado que possa absorver essa população ativa e ao mesmo tempo aproveitar o chamado bônus demográfico.

3 comentários:

  1. eu acho que esse site DEVERIA ter algum gráfico, ou alguma tabela.
    De sua seguidora "BOLINHA ROSA"

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    1. Certamente a ilustração dos dados através de gráficos e mapas favorece muto a compreensão do texto, entretanto como esse texto foi escrito originalmente para um jornal, nao foi possível inserir figuras. os próximos texto publicados no Blog já deverei acrescentar as ilustrações. Agradeço o comentário e aproveito para sugerir que veja a aba desse blog retratos da população sergipana, que coloquei alguns dados em formas de gráficos e tabelas.

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  2. Com certeza! Indispensável uma tabela para melhor visualização dos dados!

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