quarta-feira, 14 de novembro de 2012

DIVÓRCIO GRISALHO EM SERGIPE



Neilson S. Meneses (DGE/UFS)

Segundo literatura sobre divórcio o período de maior risco de separação do casal ocorre nos primeiros anos de casado, entretanto o aumento da expectativa de vida da população e as conquistas sociais que tem promovido uma melhoria da saúde e da qualidade de vida das pessoas da terceira idade desencadearam um significativo aumento do divórcio na faixa etária a partir dos 60 anos, o aqui denominado divórcio grisalho.
Em Sergipe, segundo dados do registro civil do IBGE 2010, o divorcio grisalho deu um salto significativo na última década, quando mais que triplicou o seu número no período, isto fez aumentar sua participação proporcional no total de divórcios do estado de 5,7% em 2000 para 9,6% em 2010, no caso dos homens e de 3,8 % para 5,1% no caso das mulheres. Observa-se ainda que isso se deu no contexto de crescimento do total dos divórcios no estado, pois em 2010 a taxa geral de divórcio no estado foi de 1,6 por mil, superando o resultado de 2000 quando a taxa foi 1,3 por mil habitantes. Os dados também revelaram que o aumento do divórcio grisalho fez crescer a média de idade do divórcio para homens e para mulheres em Sergipe no caso dos homens passou de 40 anos em 2000 para 44 anos em 2010 e as mulheres saíram da média de 36 anos para 40 anos em 2010. É interessante notar também que os dados se referem apenas ao divórcio legal sem serem consideradas as separações extrajudiciais ou informais que se supõe poderiam engrossar ainda mais as estatísticas do rompimento tardio dos casamentos, fazendo crê que principalmente nas sociedades capitalistas ocidentais o aumento da longevidade não tem produzido casamentos mais longos, mas sim uma tendência ao aumento da ruptura conjugal.
Para Aklander (2012) a combinação de traços que caracterizam a sociedade moderna, como o aumento da longevidade, o individualismo e descartabilidade, associados a emancipação feminina fazem com que o divorcio grisalho apresente números crescentes. Neste sentido a perspectiva é que um número cada vez maior de casais vá romper o casamento a partir da meia idade. Não se pode negar também a relação desse fenômeno com fato de que o divórcio tem se tornado mais aceitável socialmente, menos burocrático e mais econômico que em décadas passadas. No Brasil a ampliação do acesso à justiça, a redução dos prazos para iniciar os processos com a Constituição de 1988 e a possibilidade de realizar divórcios nos tabelionatos em 2007, contribui para agilizar a formalização da dissolução dos casamentos e ampliar as estatísticas do divórcio.
Essa realidade também pode ser relacionada com as mudanças no perfil da nupcialidade nos últimos anos. Em geral os dados sobre os casamentos demonstram um aumento progressivo da idade média ao casar, um crescimento do número de recasamentos (segundo casamento), sobretudo de divorciados e a substituição do “romantismo” por escolhas mais “pragmáticas” na formação das uniões.
Ademais as diversas mudanças comportamentais, sociais e econômicas em uma realidade cada vez mais urbana e industrial nos ajudam a entender o divorcio grisalho no contexto da sociedade capitalista, caracterizada por um novo papel social da mulher, que já não é aquela que não tem condições de sobreviver economicamente por si só e não é também aquela que deve se sacrificar sozinha para manter o casamento. Por outro lado a irredutível busca da felicidade estimula a procura de novo rumos na etapa final da vida, pois o que está em jogo é o direito de ser feliz.
            Entre as diversas consequências desse processo é interessante ressaltar o que aponta alguns especialistas, ou seja, que o divorcio tardio dos pais influencia os filhos adultos que parece ser ficam mais propensos ao divórcio quando comparados aos jovens filhos de pais casados, os estudos indicam que os mesmos tendem a ser menos românticos e mais pragmáticos em seus relacionamentos.
Por fim, do ponto de vista da Geografia uma consequências desse processo está o fato de que o aumento no número de divórcios e na recomposição das famílias, ensejando novas formas de viver juntos e em famílias plurais, repercute na construção de novas territorialidades, o território da família já não se limita a habitação, porque a inscrição espacial dos indivíduos tem em conta as relações que os mesmos estabelecem ao longo da vida, como aponta Catherine Bonvalet (2012) isso nos indica uma possibilidade de fazer uma diferente de leitura da evolução urbana relacionada ao contexto histórico da dinâmica das famílias e dos domicílios.
            

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