quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

ENVELHECIMENTO POPULACIONAL E BÔNUS DEMOGRÁFICO



Neilson S. Meneses (DGE/UFS)
    Observa-se, particularmente nos anos mais recentes, que o mundo vem sofrendo transformações profundas que tem impactado não só no perfil da população, mas também mudado as prioridades em termos de políticas públicas e investimentos (ABEP; UNFPA, 2009). Entre as principais transformações no perfil da população estão relacionadas à passagem de um regime “demográfico tradicional” para um regime demográfico “moderno”, explicado no contexto da teoria da transição demográfica. Essas mudanças apontam, entre outras coisas, uma tendência de envelhecimento da população mundial. É consenso que esta “revolução” demográfica trará consequências para todos os ângulos da vida individual e da sociedade, inclui aí aspectos que dizem respeito às comunidades, nações e continentes. Nessa direção os desafios envolvem impactos econômicos, sociais, políticos, culturais e territoriais e devem promover uma reavaliação das iniciativas de políticas públicas e investimentos.  
Em Sergipe, a dinâmica populacional nas últimas décadas, coloca em evidência transformações importantes pelas quais tem passado a população. O processo de transição demográfica em Sergipe tem sido acompanhado por uma transição rural urbana, por mudanças na dinâmica migratória, pela redução veloz da fecundidade e pela diminuição no ritmo de crescimento populacional nas duas últimas décadas. Todo este contexto tem desembocado em um processo de envelhecimento populacional que se caracteriza como mais atrasado, porém mais veloz se comparado com o processo em termos de outras regiões do país.

Essas transformações demográficas devem ser levadas em conta na orientação de políticas públicas a fim de se alcançar maior eficácia das mesmas. A necessidade de encontrar soluções eficientes para os problemas impostos pela realidade demanda do poder público que aperfeiçoe constantemente a sua capacidade de planejar e gerir a sociedade/território e para tanto deve combinar a eficiência e o gasto racional dos recursos na elaboração e execução de políticas públicas.
            Coloca-se o desafio de adequar os recursos financeiros e humanos disponíveis, na execução de políticas, programas e ações com eficiência e economicidade. Porém como realizar essa tarefa se não se conhecem as populações alvos? Muitas vezes por não conhecê-las as políticas e os gestores tratam a população de modo homogêneo, padronizado como se não alterassem no tempo e no espaço (Baeninger;Rodrigues,2010). Daí a o caráter estratégico dos estudos populacionais como suporte na tomada de decisões, sobretudo a partir da produção de indicadores geodemográficos.  
As mudanças populacionais, em especial a redução da fecundidade, podem e devem levar a uma reavaliação nas políticas de saúde, no novo perfil de demanda nas escolas, nas políticas de transporte, habitação e até mesmo no consumo. Deve-se aproveitar o que em demografia tem se denominado “bônus demográfico”, que se bem aproveitado poderia contribuir para ganhos educacionais como a universalização da pré-escola e ganhos nos níveis de emprego da população, que cresce a um ritmo mais reduzido.
Entretanto para aproveitar o bônus demográfico é preciso garantir investimentos e aplicar os recursos necessários para prover educação de qualidade, saúde, redução da pobreza e geração de emprego, através do crescimento econômico sustentado. Ressalta-se que vivemos essa janela de oportunidades onde já há um número elevado de pessoas em idade economicamente ativa, o que significa um alto percentual da população no auge da sua força de trabalho e de consumo. Esse momento demográfico favorável deve durar, segundo algumas projeções populacionais, no máximo mais três décadas, o que pode parecer muito, porém o período de atuar para aproveitar essa situação já está em curso e seria desastroso perder essa oportunidade única, só se pode usar o bônus demográfico uma vez.
Em síntese os desafios são grandes, devemos nos preparar para enfrentar o momento demográfico do envelhecimento populacional que se avizinha e aperfeiçoar, sobretudo elementos de maior justiça social, como viés de desenvolvimento e aplicação de políticas públicas. Seja como for, só posteriormente é que saberemos se a queda da fecundidade de fato gerou um impacto positivo no nosso desenvolvimento e se a ação do “bônus” demográfico foi virtuosa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

 

Blogroll

ibge