Neilson Santos Meneses (DGE/UFS)
O coração de Aracaju está perdendo
população e envelhecendo. Os dados do censo demográfico 2010 revelaram a
continuidade na redução da população dos bairros centrais da cidade que entre
1996 e 2010 reduziu-se relativamente 11,1%, apresentando uma perda de cerca de
6.800 habitantes. Houve paralelamente um aprofundamento do processo de
envelhecimento populacional desses bairros, que em 2010 já contavam com uma
média de mais de 13 % de população de 65 anos e mais, o que faz com que a razão
de dependência por idosos nesses bairros seja maior que razão de dependência
por jovens. Bairros como Centro, São José, Cirurgia, Getúlio Vargas, Salgado
Filho, Suissa, Pereira Lobo e Treze de Julho tem perdido população e ampliado à
proporção de idosos em suas populações e isso tem ocorrido principalmente desde
a segunda metade da década de 1990, embora apresentando ritmos diferentes
segundo os bairros.
Esse processo está associado em parte à
redução da fecundidade na cidade que a partir de 2000, segundo Meneses (2012), apresenta-se
abaixo do nível de reposição. O mesmo autor revela ainda que apesar dessa
redução está se espalhando pelos diversos bairros da cidade é nos bairros
centrais onde ela é mais baixa. Outro fator relacionado a esse processo diz
respeito a pouca atratividade de migrantes para esses bairros que em geral
apresentam valor do solo mais caro e, além disso, há um nítido redirecionamento
do uso do solo dessas áreas para fins comerciais e de serviços, o que
proporciona que durante o dia a área central apresente congestionamentos,
ruídos e contaminação e a noite e nos fins de semana um esvaziamento que define
um cenário quase fantasmagórico e também um estimulo ao uso “marginal” do
espaço.
Vale destacar que contribui ainda para o
esvaziamento dos bairros centrais, a política habitacional que induz a
localização da população de baixa renda em áreas mais afastadas da zona central
da cidade, onde predomina o sentimento de exclusão e onde se favorece o
aparecimento, de maneira mais nítida, de várias patologias sociais (Deserção
escolar, gravidez na adolescência, drogadição, ociosidade entre outras). Já os
projetos imobiliários mais caros buscam proporcionar a população de renda mais
alta opções de residência em novos bairros que apresentem qualidade de vida
diferenciada, associada principalmente a novos conceitos de estética
paisagística e exclusividade social, como os condomínios horizontais fechados
ou os grandes projetos imobiliários multifuncionais, surgindo daí a cidade dos
ricos, elitista e em geral também fora das “normas urbanas”. No processo de
produção do espaço urbano da cidade de Aracaju parece clara a opção de
construir sempre o novo, quando há muitas vezes possibilidades e às vezes mais vantagens
em reformar o antigo.
O resultado dessa dinâmica implica em
aumento da mancha urbana da cidade, provocando diversos impactos socioambientais
e demográficos, a exemplo do aumento de áreas segregadas na cidade
(contribuindo para aprofundamento das desigualdades socioespaciais), da
ampliação das distâncias a percorrer, o que induz a necessidade maiores deslocamentos
motorizados e a ocupação de novas áreas de proteção ambiental, como os
manguezais. Parece claro que essa ordem urbana se insere em um contexto cíclico de expansão do capital, que estimula
uma nova organização social do território e que cria as condições, através da
articulação entre Estado, Capital e Cidade para plena circulação do capital,
ampliando assim a mercantilização da vida urbana.
Entretanto sabe-se que a “renovação” do
centro de grandes e médias cidades já é uma perspectiva que apontam vários
centros urbanos na América Latina, incluindo cidades como Rio de Janeiro e São
Paulo, como nos informam Memoli e Rivière d’Arc (2013) segundo os mesmos “A
revalorização dos centros das grandes cidades é, atualmente, uma aposta comum
da maioria dos governos de importantes cidades latino americanas, processo que
envolve resgate da memória, requalificação econômica, programas sociais e
mobilização da sociedade. Essas são algumas das ideias colocadas em prática por
vários países e que cada cidade, à sua maneira e levando em conta suas
singularidades, busca implementar”.
Em Aracaju, ainda não se observa nenhuma
iniciativa política concreta nesta direção. E enquanto isso se verifica nos
bairros centrais, que também correspondem às áreas mais antigas da cidade,
muitos edifícios e casas já não são utilizados pra fins residências e vários
deles já apresentam sinais de abandono, no centro, por exemplo, segundo dados
do censo 2010 do IBGE, 23,2% dos domicílios não estão ocupados. Porém é nessa
região onde a população idosa mais se concentra e passa a ser dominante,
envolvendo assim novos desafios para a gestão da cidade, como desenho de novas
políticas sociais e de infraestrutura de suporte a essa faixa de população. Os novos arranjos
espaciais que caracterizam a dinâmica da distribuição espacial interna da
população em Aracaju em sua nova configuração desdobram-se em varias necessidades
e especificidades, entre elas o surgimento de novas centralidades que despontam
na cidade, sendo um importante campo de estudo para áreas como a Geografia.
Por fim, ressalta-se que o estudo da
dinâmica espacial da população e seu perfil etário na escala micro ou de
bairros revela-se um tema importante para um planejamento mais eficaz, na
medida em que possibilita que ações pontuais possam ser melhor direcionadas. A
utilização do bairro como unidade de análise, segundo diversos autores,
representa por vezes uma possibilidade privilegiada de compreensão da interação
social, e pode contribuir para gestão, planejamento e empoderamento da
população.
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