sexta-feira, 8 de março de 2013

PÓS FAMILIALISMO?



Neilson Santos Meneses (DGE/UFS)
As transformações que tem acompanhado o que muitos denominam a era pós-industrial tem afetado fortemente o comportamento demográfico da população, provocando uma radical mudança que ameaça nosso futuro demográfico e nesse sentido, alguns autores como Wallace (2000) se perguntam como fazer frente à esterilidade do capitalismo moderno, como lidar com um sistema econômico que transforma o valor social do filho de beneficio para custo? Nesta perspectiva foi publicado recentemente (2012), pelo pesquisador Joel Koetkin, um relatório internacional que prevê a era do pós familialismo. Neste trabalho se chama atenção para ascensão de uma sociedade centrada no individuo e não mais na família, pelo menos na forma tradicional que conhecemos, sendo que os países de capitalismo avançado já vivem mais de perto esse fenômeno, onde ter filho pode ser um luxo. Segundo o citado relatório cada vez mais, a família deixa de ser o elemento central de organização da sociedade. Um número sem precedentes de pessoas - se aproximando mais de 30% em alguns países asiáticos - estão preferindo evitar ter filhos e, muitas vezes, o casamento, também.

Além disso, o relatório aponta que a crescente redução da fecundidade presente como uma tendência, praticamente em todos os países do mundo, associada ao aumento do número de casais sem filhos, as mudanças na nupcialidade, com aumento da idade ao casar, o processo de desinstitucionalização do casamento, o declínio de valores religiosos e tradicionais, relacionado ao incremento do individualismo ou hiperindividualismo, implica em que as pessoas se identifiquem mais com a classe ou tribo a que pertencem do que com a família.
Muitos veem essas mudanças como sinal de progresso social ou como possibilidade de lucro, mas a possibilidade do pós familialismo é socialmente insustentável, é o que aponta o citado relatório. É necessária uma reavaliação do que seja o sucesso e realização, pois uma vida familiar saudável é tão sinônimo de sucesso quanto o êxito e a escalada profissional. Uma sociedade voltada para consumir está se tornando também cada vez mais uma sociedade sem filhos, como nos indica o demógrafo austríaco Wolfgang Lutz. Uma sociedade de fato mais preocupada com as necessidades atuais do que as necessidades futuras, já que a drástica redução da fecundidade remete ao declínio demográfico, o que não significa que devemos alimentar o mito da implosão demográfica ou do suicídio demográfico já analisado por Alves (2000).
Assim cabe nos questionarmos se estaríamos de fato caminhando na direção do pós familialismo? Essa é uma polêmica que o citado relatório provoca, já que para vários outros estudiosos brasileiros (Coleta, Alves, Wajnman) o que de fato ocorre são mudanças que levam a decadência da família do tipo de família tradicional, aquela com pai, mãe e filhos, que é cada vez mais coisa do passado, porém novos arranjos familiares tem se proliferado, entre eles o aumento das famílias monoparentais com apenas pai ou mãe, os casais sem filhos, as famílias reconstituídas de casamentos anteriores, o que demonstra uma maior diversidade e pluralidade de formações familiares e não a visão apocalíptica do pós familialismo.
O fato é que a globalização, a urbanização (metropolização), a ascensão das mulheres, e as mudanças nos padrões tradicionais das relações sexuais e uma onda geracional dessexualizada desembocam em transformações importantes na sociedade não apenas em curto prazo, mas principalmente para o longo prazo. Parece que os “sem filhos” ganham prestigio cultural sugerindo que representam não somente uma escolha possível e legitima, mas uma escolha superior, comparado com a opção por uma família com filhos. Tudo isso claramente tem resultado em uma transição demográfica inédita, no sentido das mudanças no perfil etário da população que apontam uma nova era, a do envelhecimento populacional e um consequente crescimento mais lento ou estabilizado da população mundial, a partir da segunda metade do atual século. A realidade tem demonstrado também que os países que apresentam taxas de fecundidade abaixo do nível de reposição por tempo prolongado evidenciam maior dificuldade de prosperar economicamente, claramente as economias nacionais são afetadas pelo declínio da natalidade e da família. Olhando para o futuro o homem precisa escolher que tipo de sociedade deseja, isso com a clareza de que não se vislumbra uma vitalidade demográfica com altos níveis de fecundidade como antes. 

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