Neilson Santos Meneses (DGE/UFS)
As transformações que tem acompanhado o
que muitos denominam a era pós-industrial tem afetado fortemente o
comportamento demográfico da população, provocando uma radical mudança que
ameaça nosso futuro demográfico e nesse sentido, alguns autores como Wallace
(2000) se perguntam como fazer frente à esterilidade do capitalismo moderno,
como lidar com um sistema econômico que transforma o valor social do filho de
beneficio para custo? Nesta perspectiva foi publicado recentemente (2012), pelo
pesquisador Joel Koetkin, um relatório internacional que prevê a era do pós
familialismo. Neste trabalho se chama atenção para ascensão de uma sociedade
centrada no individuo e não mais na família, pelo menos na forma tradicional
que conhecemos, sendo que os países de capitalismo avançado já vivem mais de
perto esse fenômeno, onde ter filho pode ser um luxo. Segundo o citado
relatório cada vez mais, a família deixa de ser o elemento central de
organização da sociedade. Um número sem precedentes de pessoas - se aproximando
mais de 30% em alguns países asiáticos - estão preferindo evitar ter filhos e,
muitas vezes, o casamento, também.
Além disso, o relatório aponta que a
crescente redução da fecundidade presente como uma tendência, praticamente em
todos os países do mundo, associada ao aumento do número de casais sem filhos,
as mudanças na nupcialidade, com aumento da idade ao casar, o processo de
desinstitucionalização do casamento, o declínio de valores religiosos e
tradicionais, relacionado ao incremento do individualismo ou
hiperindividualismo, implica em que as pessoas se identifiquem mais com a
classe ou tribo a que pertencem do que com a família.
Muitos veem essas mudanças como sinal de
progresso social ou como possibilidade de lucro, mas a possibilidade do pós
familialismo é socialmente insustentável, é o que aponta o citado relatório. É
necessária uma reavaliação do que seja o sucesso e realização, pois uma vida
familiar saudável é tão sinônimo de sucesso quanto o êxito e a escalada
profissional. Uma sociedade voltada para consumir está se tornando também cada
vez mais uma sociedade sem filhos, como nos indica o demógrafo austríaco Wolfgang
Lutz. Uma sociedade de fato mais preocupada com as necessidades atuais do que
as necessidades futuras, já que a drástica redução da fecundidade remete ao
declínio demográfico, o que não significa que devemos alimentar o mito da
implosão demográfica ou do suicídio demográfico já analisado por Alves (2000).
Assim cabe nos questionarmos se estaríamos
de fato caminhando na direção do pós familialismo? Essa é uma polêmica que o
citado relatório provoca, já que para vários outros estudiosos brasileiros
(Coleta, Alves, Wajnman) o que de fato ocorre são mudanças que levam a
decadência da família do tipo de família tradicional, aquela com pai, mãe e
filhos, que é cada vez mais coisa do passado, porém novos arranjos familiares
tem se proliferado, entre eles o aumento das famílias monoparentais com apenas
pai ou mãe, os casais sem filhos, as famílias reconstituídas de casamentos
anteriores, o que demonstra uma maior diversidade e pluralidade de formações
familiares e não a visão apocalíptica do pós familialismo.
O fato é que a globalização, a
urbanização (metropolização), a ascensão das mulheres, e as mudanças nos padrões
tradicionais das relações sexuais e uma onda geracional dessexualizada
desembocam em transformações importantes na sociedade não apenas em curto prazo,
mas principalmente para o longo prazo. Parece que os “sem filhos” ganham
prestigio cultural sugerindo que representam não somente uma escolha possível e
legitima, mas uma escolha superior, comparado com a opção por uma família com
filhos. Tudo isso claramente tem resultado em uma transição demográfica
inédita, no sentido das mudanças no perfil etário da população que apontam uma
nova era, a do envelhecimento populacional e um consequente crescimento mais
lento ou estabilizado da população mundial, a partir da segunda metade do atual
século. A realidade tem demonstrado também que os países que apresentam taxas
de fecundidade abaixo do nível de reposição por tempo prolongado evidenciam
maior dificuldade de prosperar economicamente, claramente as economias
nacionais são afetadas pelo declínio da natalidade e da família. Olhando para o
futuro o homem precisa escolher que tipo de sociedade deseja, isso com a
clareza de que não se vislumbra uma vitalidade demográfica com altos níveis de
fecundidade como antes.
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