terça-feira, 11 de junho de 2013

MUDANÇAS NAS FAMÍLIAS E O AUMENTO NO NÚMERO DE NASCIMENTOS FORA DO CASAMENTO EM SERGIPE



Neilson Santos Meneses (DGE/UFS)
Como um indicador das mudanças na formação das famílias, o número de nascimentos fora do casamento formal e legal apresenta uma tendência de crescimento nas últimas décadas. Esta é uma realidade que era pouco aceita em décadas passadas (principalmente nos anos 1960, 1970), onde termos como “mãe solteira” e “filho ilegítimo” eram usados no sentido discriminatório. O filho fora do casamento muitas vezes era mantido em segredo e a situação não era bem vista socialmente. Hoje, porém, a gravidez não marital tornou-se rotina e em Sergipe não é diferente, pois as mudanças fazem parte do contexto sociocultural contemporâneo, com as transformações no status da mulher e a transição demográfica que tem alterado a estrutura tradicional das famílias. Se antes as pessoas esperavam casar primeiro para formar família e depois ter filhos, atualmente a realidade apresenta novas facetas, pois as gerações mais jovens apresentam uma tendência diferente, revelando novos valores e posturas “mais liberais” ou flexíveis com relação à estrutura familiar.

Os dados dos censos demográficos do IBGE para Sergipe apontam que enquanto na década de 1970 o número de nascimentos fora do casamento legalizado representava 24,1 % do total de nascidos, em 2010 esse número já representava 61,2% sendo que a década de 1991 parece ter sido o ponto de inflexão desta tendência, quando apresentou 46,7% de nascimentos fora do casamento legal. É importante ressaltar o que está se considerando nascimentos fora do casamento, são os filhos de mulheres cujo estado conjugal é: solteira, vivem em uniões consensuais, viúvas, divorciadas, separadas judicialmente e desquitadas.
Essa tendência crescente esta relacionada a ampliação progressiva da taxa de divórcio, ao aumento das relações conjugais não formalizadas, ao aumento do número de pessoas que adiam o casamento e a multiplicação dos que decidem por não constituir família.
O aumento no número de nascimentos fora do casamento vem acompanhado de um crescimento das uniões consensuais (especialmente entre gerações mais jovens, de menor renda e menor grau de escolaridade) o que parece colocar a coabitação informal como uma alternativa “moderna” ao instituto do casamento. Esta realidade é consequência da diminuição da influência religiosa, de um crescente individualismo (onde cada vez menos o individuo é considerado em relação ao contexto familiar e mais com relação ao seu próprio progresso profissional e econômico) e da menor pressão social sobre comportamentos antes considerados socialmente desviados. Além disso, acompanha também a tendência, o aumento de mães solteiras e de famílias monoparentais. Com relação aos nascimentos fora do casamento relacionados com mães solteiras tem como prováveis causas a precocidade sexual associada à gravidez adolescente, a escolha de mulheres por projetos “independentes” de maternidade e o efeito de retardamento da idade ao casar acompanhados de atitudes liberais com relação à atividade sexual.
Já com relação a famílias monoparentais, definidas como aquelas formadas por qualquer um dos pais e filho(s), podendo o progenitor ser viúvo, divorciado, separado ou solteiro, apresenta uma variedade de causas, entre as quais se ressalta mudanças no estilo de vida, onde as pessoas (principalmente os jovens) têm preferido viver relacionamentos sem compromisso e onde o casamento deixa de ser uma meta importante. Outra causa que contribui fortemente com o aumento da monoparentalidade é o crescimento do número de divórcios e separações, além da viuvez que por sua vez relaciona-se também com o envelhecimento populacional.
            Percebe-se que as mudanças na sociedade tem repercutido em famílias plurais, entender melhor essas mudanças no contexto das novas relações familiares contemporâneas, ajuda-nos a compreender os impactos das transformações sociais, econômicas, demográficas e culturais pelas quais estamos passando e nos estimula a refletir sobre os rumos que estamos seguindo. O aumento de nascimentos fora do casamento indicam, além das mudanças no comportamento social, matrimonial e nos arranjos familiares, novos perfis de população, os quais são importantes diagnosticar tanto do ponto de vista do mercado, quanto de populações alvos para políticas públicas especificas.




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