Neilson
Santos Meneses (DGE/UFS)
Embora o ritmo de urbanização em Sergipe
tenha ocorrido de maneira mais lenta na última década, observa-se que esse
crescimento segue existindo e tem se localizado mais intensamente na periferia
das maiores cidades, onde ocorre o maior crescimento da população urbana. É aí
onde a população de baixa renda, “órfã” de políticas de habitação especificas e
que deem conta das demandas, busca ter acesso a um pedaço de terra onde
construir sua habitação. É também nesse contexto que o Censo 2010 do IBGE
aporta informações sobre população residente em aglomerados subnormais
As informações do censo 2010 do IBGE,
quando comparados com dados anteriores do IPEA(1991), revelam que a proporção da população residente em aglomerados
subnormais, em Aracaju, mais que triplicou no período de 1991 a 2010. Os dados
indicam que essa população passou da proporção de 2,4% para 10,8 % da população
total, o que representa atualmente mais de 60 mil pessoas vivendo em
aglomerados subnormais, isto representa um número de habitantes que é maior que
o número de habitantes de 69 municípios do estado, ou seja, apenas seis
municípios do estado tem população maior que a população residente em
aglomerados subnormais em Aracaju. Isso indica que a situação habitacional em
Aracaju pode ser considerada preocupante.
Na última
década, a população em aglomerados subnormais cresceu 411,07% e superou em
muito o percentual de crescimento da população total do município que foi de
23,7%, representando assim 45,4 % do crescimento total da população residente no
período 2000-2010. Verifica-se que parte significativa do crescimento
populacional do município, nesse período, se deu a partir da formação de
aglomerados subnormais, o que nos possibilita questionar a eficiência das
políticas públicas de habitação de interesse social em Aracaju e alerta para
necessidade de se repensar a mesma.
Segundo
Cardoso (2012) “Desde a extinção do BNH, em 1986, até 2008, a habitação social
permaneceu relegada a uma posição subalterna na agenda das políticas sociais.
Enquanto isso, os problemas habitacionais se agravaram”. A Fundação João Pinheiro estimou, no ano de
2008, o déficit habitacional brasileiro em cerca de 5,5 milhões de unidades,
sendo cerca de 1,5 milhões nas regiões metropolitanas. Desses totais, 90%
correspondem a famílias em situação de pobreza, com renda familiar na faixa de
0 a 3 salários mínimos. Em Aracaju o déficit habitacional em 2008, segundo a
mesma fonte, foi 15.110 unidades habitacionais, número que certamente aumentou,
posto que só número de domicílios em aglomerados subnormais em 2010, apontado
pelo IBGE, chega a 17.538 unidades habitacionais.
Vale
ressaltar, que segundo IBGE- Censo Demográfico 2010 “o
aglomerado subnormal é classificado como cada
conjunto constituído de, no mínimo, 51 unidades habitacionais carentes, em sua
maioria, de serviços públicos essenciais, ocupando ou tendo ocupado, até
período recente, terreno de propriedade alheia (pública ou particular) e
estando dispostas, em geral, de forma desordenada e densa”. Como se pode
observar pela definição acima, apenas quando formam conjunto de mais 50
unidades habitacionais é que o IBGE identifica como aglomerados subnormais,
entretanto é de se supor que ainda há uma parte da população vivendo em áreas
semelhantes que não são computadas como população em aglomerados subnormal,
devido a não somar mais de 50 unidades. Sendo assim, é bem provável que esse
número de população residente em áreas e locais inadequados seja ainda maior.
De
fato o adensamento populacional demonstra um do padrão de crescimento da
população mais concentrado nas áreas periféricas da capital, o que tem tido
importantes repercussões no processo de segregação sócio espacial observado em Aracaju
e às vezes nos acostumamos tanto com essa segregação que passamos a
considera-la normal, embora não seja. Verifica-se que é na periferia da capital
que vai se concentrando mais fortemente a população e que a expansão urbana do
município se caracteriza por diversos problemas (como os de infraestrutura e
serviços) que demonstram uma ineficácia do poder público no atendimento a
demandas básicas da população que se concentra nessa área. Entre os bairros
mais populosos da capital em 2010, segundo dados do IBGE, estão o Santa Maria,
São Conrado, Santos Dumont, Cidade Nova e 18 do forte e entre os que mais
cresceram em população estão o Porto Dantas, Soledade e o Jardim Centenário,
áreas caracterizadas pela carência de infraestrutura e serviços. Essa realidade
acaba também revelando como funcionam as engrenagens da periferia, por um lado
os já conhecidos motivos da migração campo cidade, como concentração fundiária
e a modernização conservadora no campo, por outro lado a insuficiência de políticas
habitacionais para população de baixa renda e complementando o processo, a ação
dos atores sociais excluídos na ocupação irregular.
É interessante notar
ainda, como essa realidade está vinculada, não somente a política habitacional
em Aracaju, mas também a política habitacional dos municípios vizinhos, posto
que quando foram postas em prática as políticas habitacionais da construção de
moradias populares, através da localização de conjuntos habitacionais, nas
áreas limítrofes de Aracaju, a população dos municípios vizinhos a Aracaju,
cresce relativamente em um ritmo mais acelerado que a população da capital,
aumentando a periferização na área metropolitana e parece ser ajudando a conter
o crescimento da população em aglomerados subnormais em Aracaju.
Taxa de Crescimento Relativo da População –
Municípios da Grande Aracaju – 1980/2010
MUNICIPIOS
|
1980/1991
|
1991/2000
|
2000/2010
|
ARACAJU
|
37,3
|
14,7
|
23,7
|
BARRA
DOS COQUEIROS
|
60,0
|
39,9
|
40,5
|
NOSSA
S. DO SOCORRO
|
392,9
|
94,9
|
22,1
|
SÃO
CRISTOVÃO
|
97,1
|
35,9
|
22,0
|
Fonte: FIBGE – Censos Demográficos
1980/2010.
Entretanto na última
década, houve um ritmo menor de construção de habitações populares nos
municípios vizinhos a Aracaju e isso hipoteticamente e entre outros motivos,
pode ter proporcionado uma relocalização da população (principalmente migrante)
que passa a ocupar mais intensamente a periferia da própria capital, repercutindo
em um crescimento relativo da população dos municípios de Nossa Senhora do
Socorro e São Cristovão, na última década, inferior ao da capital (a exceção é
o município de Barra dos Coqueiros). Por fim não se pode deixar de ressaltar
que essa problemática se insere no contexto de um planejamento e gestão urbana pouco
eficiente em lidar com grande volume de problemas, resultando nas dificuldades
em alcançar uma melhor qualidade vida, em especial em áreas periféricas. Temos
ainda muitos empecilhos a vencer na busca da consolidação de uma Aracaju mais
justa e democrática e entre estes está certamente uma política habitacional que
dê conta em reduzir as demandas por moradia da população de baixa renda (que
compõe a maioria do déficit habitacional) e essa deve ser uma preocupação
importante para o gestor municipal.
As evidências dos dados
têm revelado a importância de um planejamento e gestão voltados para realidade
e isso pode muito bem ser vislumbrado, por exemplo, na elaboração dos planos
diretores de desenvolvimento urbano, que por vezes se tornam tão complexos que
acabam não contribuindo, da maneira que deveriam, para que o planejamento seja
implementado como mecanismo de melhoria da gestão do município, não tornando a
cidade acessível para todos. È preciso lembrar que moradia digna é um direito e
vetor de inclusão social.
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