Neilson Santos Meneses (DGE/UFS)
A
ideia do direito a cidade conforme propunha Lefèbvre
ainda na década de 60 do século passado, embora tenha já
ensejado muitas mudanças normativas, a exemplo do estatuto da cidade, não
repercutiu ainda de fato na realidade urbana das cidades Brasileiras. Em
Aracaju, o adensamento populacional na cidade demonstra um padrão de
crescimento da população mais concentrado nas áreas periféricas da capital, o
que tem tido importantes repercussões no processo de segregação sócio espacial.
Entre os principais aspectos dessa segregação podemos citar a segregação
socioeconômica que abrange entre outros, problemas relacionados à renda,
moradia, a transporte, saúde, educação e a socioambiental que se relaciona a
questões como saneamento, poluição em geral, infraestrutura, destinação do
lixo, etc. Estes problemas obviamente comprometem a qualidade de vida e o
direito a cidade e atingem mais fortemente as áreas periféricas. Segundo Torres
(2004) “... a segregação é dada
pelo grau de separação entre grupos sociais, basicamente a separação
residencial entre grupos sociais...” essa perspectiva leva em conta que o lugar
onde se vive é importante na configuração das condições de
vida e na reprodução dos grupos sociais. Na produção do espaço urbano a lógica
de mercado impõe o
tratamento da moradia e dos serviços urbanos como mercadorias e não como bens e
serviços indispensáveis ao direito humano à vida e à cidade, gerando por
consequência a exclusão de parcela da população que acaba ocupando áreas menos
valorizadas e que oferecem menos oportunidades tanto do ponto de vista objetivo
(mercado de trabalho, serviços públicos, acessibilidade, infraestrutura) como
subjetivo (capital social, informações).
Essa geografia da exclusão tem na vulnerabilidade socioespacial um
traço essencial na sua composição. A exposição a situações de risco e
constrangimentos e a capacidade de respostas a essas situações é o que indica o
grau vulnerabilidade dos grupos sociais e está intimamente relacionada ao lugar
onde se vive, isto é, há uma forte correlação entre vulnerabilidade social e a
segregação socioespacial. Uma tentativa de mensurar a vulnerabilidade social e
revelar aspectos da segregação socioespacial ou da exclusão na cidade pode ser
feita utilizando-se de dados do censo demográfico e construindo indicadores que
tenham em conta as condições de vida nas diferentes regiões ou bairros da
cidade.
Os resultados do censo
demográfico permitem verificar uma forte concentração dos rendimentos em Aracaju,
quando observamos a sua distribuição por bairros da capital. Os dados revelam uma
concentração espacial da renda onde 08 bairros centrais concentram 48,6 % do
rendimento médio mensal das pessoas. A situação de renda, segundo dados do
Censo 2010 do IBGE, revela uma periferia com rendimento inferior em mais de dez
vezes a dos bairros mais ricos da cidade. A concentração espacial da renda
repercute nas condições de educação, nos indicadores de saúde e nas condições
de moradia. Os resultados desses indicadores quando observados no mapeamento
realizado revelam um padrão espacial de exclusão social de parte significativa
da população aracajuana, que incluem ademais deficiências na cobertura do
saneamento, no transporte público, na segurança e na desordenada ocupação do
espaço urbano, a partir do surgimento dos aglomerados subnormais.
É interessante notar que na paisagem urbana da cidade o padrão de
distribuição dessa periferia aparece principalmente nas bordas do tecido urbano
e com algumas exceções incrustadas em alguns bairros consolidados próximos a
áreas centrais. Outro traço característico dessa geografia da exclusão em
Aracaju é localização da maioria dessa população e das áreas periféricas na
zona norte da cidade, o que faz com que quem somente circula pela cidade na sua
zona projetada, central e turística não perceba a mesma. Isso diferencia a
segregação socioespacial aracajuana de outras cidades como Maceió e Salvador
onde a exclusão contrasta pela proximidade e vizinhança à áreas centrais e
turísticas dessas cidades.
O estabelecimento de uma
sociedade cada vez mais mercantilizada, baseada no prestigio do dinheiro como
valor primordial da vida, promove a experiência da degeneração dos indivíduos,
nesse caso, evidenciados na produção do espaço urbano excludente das periferias.
Vale ressaltar que é fundamental, pois pensar e planejar uma cidade para o
homem, tendo em conta o direito de viver e habitar, é necessário repensar os
instrumentos de gestão urbana na perspectiva da construção de um conjunto de políticas
urbanas e habitacionais inclusivas, tendo em conta que hoje a maior
concentração da pobreza ocorre nas áreas urbanas.
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