Neilson S. Meneses
CMTI- Aracaju/DGE/UFS
A situação
conjugal está associada em grande parte com os valores e padrões culturais da
sociedade onde os indivíduos se inserem.
As transformações da sociedade moderna têm afetado esses valores e
padrões que repercutem na constituição de novos tipos de arranjos familiares e
formas de convivência. A realidade para os idosos em Sergipe reflete estas
transformações sócio demográficas relacionadas a novos costumes, regras, valores
e padrões culturais que nos convidam a refletir sobre questões importantes
como, a “solidão” entre os idosos, o aumento na dissolução de uniões (divorcio
grisalho), o aumento de uniões consensuais ou no caso aqui, a situação conjugal
diferenciada para homens ou mulheres e por grupo de idade entre os idosos. Tudo
isto tem um importante impacto na condição de vida dos idosos, na maneira como
os mesmos enfrentam a velhice.
As
informações sobre formas de convivências da PNAD 2011 revelam que enquanto 74,1
% dos homens idosos vivem em união conjugal, apenas 34,0 % das mulheres idosas
vivem nesta situação em Sergipe.
SERGIPE
Distribuição (%) da População de
60 anos ou mais por Situação Conjugal e Sexo – 2011
HOMENS
|
MULHERES
|
TOTAL
|
|
CASADOS
|
74,1
|
34,0
|
51,2
|
DIVORCIADOS OU SEPARADOS
JUDICIALMENTE
|
5,4
|
5,2
|
5,3
|
VIÚVOS
|
14,7
|
43,6
|
31,2
|
SOLTEIROS
|
5,8
|
17,1
|
12,3
|
TOTAL
|
100,0
|
100,0
|
100,0
|
Fonte:
Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar - PNAD - Microdados- Elaboração
Própria
As idosas
aparecem também como maioria na condição de viúva onde são 43,6 %, sendo que
para os idosos homens esse número cai para 14,7 %, devido principalmente a sua
menor longevidade e ao recasamento. A possibilidade de uma mulher idosa viúva o
divorciada voltar a casar é menor que a do idoso homem. Os dados do registro
civil 2011 revelaram que ocorreram 184 recasamentos de idosos viúvos ou
divorciados, neste ano, enquanto apenas 23 idosas viúvas ou divorciadas
voltaram a casar. Outro aspecto que
chama atenção dos dados da PNAD, revela que entre os idosos que vivem sós,
cerca de 35 mil, a maioria é mulher (54,3%).
Essas diferenças se acentuam com a idade, por exemplo, entre os idosos
de 75 anos e mais, 68,6% dos homens ainda vive em companhia (unidos
conjugalmente) já as mulheres idosas apenas 20 % dessa faixa etária continua
vivendo em união conjugal.
As cifras de
homens idosos vivendo em companhia supera a de mulheres em todos os grupos de
idade investigados e repercute no aumento de mulheres que vivem a velhice em formas
de convivência diferentes da união conjugal, como as que convivem com outros
familiares, a maior presença de mulheres em instituições de longa permanência,
alojamento para idosos e o maior número de mulheres em domicílios unipessoais.
Verifica-se que as idosas no final da vida (80 anos e mais) representam mais de
36 % das mulheres que vivem em domicílios unipessoais isto é, sozinhas. De
maneira que em teoria as idosas estariam mais propensas ao desamparo e a
solidão que os idosos.
Essa realidade se insere no contexto da
feminização da velhice que também se acentua nos grupos etários de mais idade,
isto é, a população dos mais idosos é ainda mais feminina, e está relacionado a
maior expectativa de vida das mulheres, resultado da maior mortalidade
masculina, o que deixa em geral a mulher sozinha ou vivendo com outros parentes
ou filhos. Como já mencionado, condições na qual a mulher é maioria. Também é
possível atribuir essa realidade a maior facilidade que tem os homens, de
formar nova união. É que diante da atual estrutura etária e sabendo-se que os
homens em geral olham para baixo da pirâmide na hora de formar uma nova união,
isto é, buscam mulheres com idade inferior, enquanto em geral as mulheres olham
para cima da pirâmide ou seja buscam companheiros com um pouco mais idade, as
oportunidades de formar uma nova união são maiores para os homens idosos.
Parece ser, que a situação de inserção na família e estado
conjugal, tendo em conta as diferenças de gênero, apresenta aparentemente mais “vantagens”
para os idosos que para as idosas, que seriam, portanto, mais propensas à
vulnerabilidade. Vale destacar contudo, que o aumento da
cobertura de pensões e aposentadorias nos últimos anos, inclusive acabam
convertendo essas idosas em um importante capital social para os demais
parentes, além do que, deve-se também ter em conta, a força das mulheres na
busca de formas de enfrentar mais esse desafio que a longevidade traz consigo.
Nesse sentido, como o grupo populacional de idosos é muito heterogêneo e há
diferentes maneiras de inserção familiar e na dinâmica social, as conclusões
são sempre complexas e provisórias,
A relevância do tema reside no fato de qualquer ação que vise melhorar a
qualidade de vida das pessoas idosas, necessita uma previa identificação dos
grupos mais vulneráveis, sua quantificação e características. As mulheres
idosas em Sergipe, segundo os dados da PNAD 2011, predominam coabitando com
outros parentes (o que supostamente pode indicar maior dependência), em
domicílios unipessoais, apresentam frequentemente maior índice de deficiência
motora e visual que os homens idosos, estão em menor proporção como chefes de
família, também no mercado trabalho, estão em maior proporção entre os idosos
sem rendimentos e envelhecem menos em companhia que os homens. Isto não
significa que de fato sejam mais vulneráveis, senão que estão mais expostas ao
risco da vulnerabilidade, sendo que essa realidade deve ser aprofundada em
pesquisas (incluindo inclusive aspectos da participação social dos idosos) com
vistas à construção de políticas públicas de atenção ao idoso mais eficazes.
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