sábado, 23 de abril de 2011

Jornal da Cidade - Aracaju-SE

Mulheres estão optando por gravidez tardia

Publicada: 21/11/2010
Texto: Edjane Oliveira
A ideia de encontrar o homem certo, casar e ter filhos logo nos primeiros anos da juventude aos poucos tem deixado de ser o pensamento de boa parte das mulheres brasileiras. A cada ano tem crescido o número das que têm optado por priorizar os estudos, a carreira e a estabilidade financeira antes de decidir serem mães. O levantamento Estatísticas do Registro Civil, divulgado recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), mostrou que no país, na última década, houve uma redução da proporção de registros de nascimento de filhos de mães com idade entre 15 aos 24 anos.

Em 1999, o índice era de 20,8% na faixa dos 15 aos 19 anos e de 30,8% entre os 20 e 24 anos. Já em 2009 esse percentual reduziu para 18,2% e 28,3%, respectivamente. Nesse mesmo período, observou-se um aumento no índice de mulheres na faixa a partir dos 25 anos. O maior percentual de crescimento foi entre aquelas com idade dos 30 aos 34 anos. De acordo com o IBGE, em 1999, do total de mulheres que tiveram filho, 14,4% estavam nessa faixa etária. Já no ano passado, o percentual aumentou para 16,8%.

Segundo as Estatísticas do Registro Civil, em Sergipe a maior proporção de registros de nascimento ainda está entre as mulheres na faixa etária dos 20 aos 24 anos (28,4%). No entanto, o índice de mulheres que tiveram filho quando elas tinham entre 25 e 29 anos e 30 e 34 anos está bem próximo do nacional. Em Sergipe, ele ficou, respectivamente, em 24,2% e 16,5%. Em 2009, dos 32.845 bebês nascidos vivos, 5.411 eram filhos de mulheres entre 30 a 34 anos. Outros 7.947 nasceram de mães com idade entre 25 a 29 anos. Ou seja, as sergipanas também estão postergando a decisão de serem mães pela primeira vez.

Para o IBGE, o estreitamento da pirâmide etária nos grupos mais jovens, a redução das taxas de fecundidade em todos os segmentos etários e a postergação da maternidade, em especial no caso de mulheres com maior escolaridade, são elementos que explicam a redução absoluta e relativa dos nascimentos, principalmente, entre a população feminina de 15 a 19 anos e 20 a 24 anos.

Questão complexa
Segundo o professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Neilson Meneses, essa opção das mulheres em ter filhos mais tarde – bem diferente de nossas bisavós, avós e até mães – é uma questão complexa, mas que se explica por alguns motivos. O primeiro deles é que as mulheres estão estudando mais e retardando sua entrada no mercado de trabalho, o que faz com que a ideia de ter filhos só venha depois, quando já estiverem estabilizadas economicamente.

O segundo motivo apontado pelo pesquisador é com relação ao novo papel social da mulher, devido, principalmente, à sua maior participação no mercado de trabalho e à revolução sexual, que desatrelou o sexo apenas do casamento e para procriação. “Isso deu maior independência à mulher, o que fez com que ela retardasse a decisão por uma gravidez”, explicou. Outro motivo citado por ele para esse fenômeno que vem acontecendo em todo país é a nova mentalidade da mulher moderna, que leva em conta o valor social de um filho. O que antes era visto apenas como um benefício, hoje, com essa mentalidade mais racional, é pensado também como um custo.

A vendedora Elisângela Bispo Valido, 34 anos, preferiu priorizar os estudos, conseguir um bom emprego, para depois, um pouco mais estabilizada economicamente, realizar o sonho de ser mãe. Aos oito meses de gestação da filha Letícia, ela conta – assim como tem feito um número maior de brasileiras – que optou por só ter um filho quando tivesse condições de sustentá-lo e cuidar dele. “Antes de engravidar pensava muito nisso. Não queria ter um filho se não tivesse essas condições básicas”, disse.

Para depois
Casada há cinco anos, a bióloga Daniela Andrade de Oliveira Guimarães, 32 anos, ainda não faz planos para ter seu primeiro filho. Ela também está no grupo de brasileiras que optou por priorizar os estudos e a carreira antes de tomar essa importante decisão. Daniela concluiu a graduação em Biologia em 2001, emendou o mestrado e em seguida iniciou o doutorado em Ecologia pela Universidade de Campinas (Unicamp), ainda não concluído.

Na sua lista de prioridades, atualmente estão a conclusão do doutorado e a aquisição da casa própria. “Quando penso em filhos, penso muito no depois, nas mudanças que terão que ocorrer na minha vida e nas condições que terei que estabelecer para poder educar uma criança, com princípios cristãos e valorizando a família, nos dias de hoje”, disse.

Entretanto, ela ressalta que, mesmo tendo o desejo de ser mãe um dia, essa decisão não está atrelada à concretização desses projetos, como o término do doutorado e a casa própria. A bióloga revelou que realmente há uma cobrança muito grande da sociedade, amigos, família e até mesmo médicos com relação à chegada do primeiro filho dela. “Mas eu quero estar tranquila para ter meu filho. Quero conseguir me enxergar mãe antes de decidir engravidar e não que isso aconteça como se fosse uma obrigação, por ser mulher e casada”, revelou, acrescentando que o marido, Emir Machado Guimarães Filho, também compartilha a mesma opinião e que, no momento, não está planejando aumentar a família.

Reflexos
Para o professor Neilson Meneses, essa nova opção das mulheres em protelarem a gravidez já começa a se refletir na redução do número de habitantes nos domicílios do país e da taxa de fecundidade. Em Sergipe, os dados preliminares do Censo 2010 mostram que cada domicílio possui, em média, 3,49 moradores. Há 10 anos, no Censo 2000, esse número era de 4,09, ou seja, houve uma redução significativa.

Com relação à taxa de fecundidade, também houve, no Estado, uma sensível diminuição. No ano 2002 ela era de 2,70 filhos por mulher. Em 2009 a quantidade caiu para 1,84 filho por mulher. Ela está abaixo da chamada taxa de reposição – taxa de fecundidade necessária para que a população local continue crescendo –, que é de 2,1 filhos por mulher. Abaixo desse valor significa que a população não será reposta e, mais tempo menos tempo, começará a diminuir.

Essas mudanças na dinâmica populacional, segundo o professor Neilson Meneses, têm feito surgir novos arranjos familiares, a exemplo do crescente número de casais sem filhos, os chamados ninhos vazios. “Porque essas pessoas querem alavancar suas carreiras, curtir a vida e optam por não ter filhos”, disse. Ele acrescentou que essas mudanças gradativas vão gerar impactos socioeconômicos. Entre eles, a redução do tamanho das famílias, o crescimento do número de idosos (aliado à problemática de quem vai cuidar deles), um novo mercado consumidor, redução dos espaços públicos para crianças, entre outros.

Problemas de saúde
Mas as consequências de uma gravidez tardia ou da opção das mulheres em não ter filhos vão além da parte socioeconômica. Alguns problemas de saúde podem decorrer dessa decisão, que tem sido cada vez mais comum em nossa sociedade. Segundo a presidente da Sociedade de Obstetrícia e Ginecologia de Sergipe (Sogise), Eline Gurgel, no dia a dia os médicos têm observado nos consultórios que as mulheres têm deixado para engravidar quando já estão com a vida estabilizada, o que ocorre entre os 32 e os 35 anos. “As mulheres atuais projetam o nascimento dos seu primeiro filho depois de terem decidido o seu futuro profissional, meta que hoje em dia se alcança cada vez mais tarde. Sendo assim, estão optando por uma gravidez mais programada, diferentemente dos tempos passados em que, quando se casava, pensava-se logo na maternidade”, disse.

No entanto, a obstetra alerta que as gravidezes mais tardias podem deixar as mulheres mais vulneráveis a desenvolver doenças como diabetes, complicações cardiovasculares, pressão alta e insuficiência cardíaca congestiva, além de uma gravidez com chances maiores de prematuridade fetal, abortamento e de defeitos cromossômicos, como a Síndrome de Down.

Outro fator de extrema importância para a saúde da mulher quando se fala em gravidez tardia é o maior risco de câncer de mama. Segundo Eline Gurgel, isso acontece pela associação da amamentação, que protege a mulher contra esta doença. A presidente da Sogise cita que outro ponto que gera preocupação quando se fala em gravidez tardia é que, quando se tem o primeiro filho após 35 anos, a tendência é que se converta em filho único. “Até porque a fertilidade da mulher vai diminuindo conforme os anos, dificultando cada vez mais uma nova gravidez”, disse.

Mas a médica disse que as mulheres hoje são mais saudáveis que as de antigamente, pois usufruem de uma melhor alimentação, com vacinas e supervisão médica desde a infância. No entanto, segundo a médica Eline Gurgel, já existem estudos americanos que mostram que a gravidez tardia pode proporcionar também alguns efeitos benéficos, como proteção da densidade mineral óssea e diminuição do risco de derrame cerebral. “Ao ter um filho nesta fase, a mãe já tem mais maturidade sobre o que quer e este filho pode ser mais desejado e querido, sendo uma vantagem para engravidar neste período de vida”, disse.

Cresce número de mulheres chefes de família
A renda maior da mulher com relação ao seu cônjuge, maior escolaridade e situação de trabalho mais estável são algumas das hipóteses que podem explicar o aumento ocorrido nos últimos anos no Brasil do número de famílias chefiadas por mulheres. Entre os anos de 2001 e 2009, o percentual passou de 27% para 35% de famílias que têm a mulher como chefe de família, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE. Em números absolutos, isso significa quase 22 milhões de famílias em que a principal responsável é uma pessoa do sexo feminino.

Uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgada recentemente, buscou fazer uma análise desse fenômeno. Ele aponta três hipóteses para isso: a mulher ganha mais que o homem, possui mais escolaridade ou tem uma situação de trabalho mais estável que ele. Entretanto, pesquisadores do instituto dizem que nenhum desses fatores pode ser definido como determinante para a chefia feminina.

Segundo o estudo do Ipea, a maior parte das famílias chefiadas por mulheres é de mães com seus filhos, o que representa uma sobrecarga maior para ela. No caso das famílias chefiadas pelo sexo feminino, o maior percentual é de mulheres sem cônjuge com filhos (17,3% do total de famílias brasileiras e 49,3% do total das chefiadas por mulheres em 2009). Isso significa dizer que, nesse caso, a chefia não está relacionada apenas à manutenção econômica da família, mas também no que diz respeito à responsabilidade com os filhos.

O estudo do Ipea observou que, no geral, as mulheres chefes de família tinham 60 anos ou mais em 2009 (27,2%). Nas famílias de mulheres sem cônjuge e com filhos, o índice de chefes do sexo feminino com idade acima de 60 anos é de 27,5%, e nas que têm apenas filhos o percentual é de 22,9%. Entre as famílias formadas por casais com filhos, 28% das mulheres chefes encontravam-se na faixa de 40 a 49 anos, mesma proporção encontrada entre os homens chefes. A gerente comercial Silvaneide Martins, 48 anos, é um exemplo disso. Casada e mãe de dois filhos, ela é a chefe da família. É dela a responsabilidade pela maior parte das despesas de casa e toda administração do lar. “Eu fico responsável pelo pagamento de quase todas as contas de casa, compra de supermercados, roupas, escola, por decidir alguma viagem, enfim, quase tudo”, disse a gerente.

Toda essa responsabilidade significa jornada dupla de trabalho. E Silvaneide confirma isso. Ela conta que na empresa onde trabalha são, no mínimo, oito horas diárias e depois de tudo isso ainda enfrenta o gerenciamento da família. “Mas felizmente isso não causa nenhum problema em casa. E faço isso com prazer, pois prefiro que eu esteja à frente”, garantiu, acrescentando que desde os seus 18 anos, quando iniciou a trabalhar, começou a conquistar sua independência financeira.

Outras 31,3% delas tinham entre 30 a 39 anos, faixa etária na qual normalmente as mães ainda têm filhos pequenos e dependentes. A idade média das mulheres na posição de chefes é um pouco superior à dos homens na mesma posição: 48,5 anos contra 46. Nas famílias monoparentais femininas, a média é de 47 anos, mostrando aumento de idade ao longo do período, já que em 2001 era de 44 anos. O Ipea constatou também que as mulheres chefes têm mais anos de estudo que os homens chefes, confirmando a tendência que se observa na sociedade como um todo. Entretanto, essa diferença é bem reduzida. Enquanto as mulheres têm 7,1 anos de estudo, os homens têm 6,9.

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